Sunday, April 13, 2008

"So, the Boleyn whores! Two former ladies of mine."

Hoje vi o filme "The Other Boleyn Girl" e tenho a dizer que fiquei impressionado com a dualidade do filme, e também com a sua vertente psicológica, se bem que de antemão já esperava um filme assaz agradável.

“The Other Boleyn Girl”, que a priori podemos classificar de drama épico, mostra uma história sobejamente conhecida por todos nós, apesar de não ser precisamente fiel em relação aos factos históricos. Mas daí advém o já adquirido lado ficcional, e diria também sensacional, até porque é baseado no romance histórico de Philippa Gregory. De facto, o filho que Mary Boleyn teve, pensa ser-se de William Carey, no entanto a inviabilidade de se saber a verdade faz com que os historiadores ponham também a hipótese de ser um filho bastardo do rei Henrique VIII. Todavia, este aspecto é demasiado explorado, ao mesmo tempo que nunca mais se vê a criança em si, sem ser na cena do nascimento em que vemos um bebé bastante grande para recém-nascido.

Mary Boleyn, fantasticamente interpretada por uma das actrizes com mais potencial em Hollywood (Scarlett Johansson), é vista de um prisma demasiado inocente e "bonzinho", o que não responde de todo à realidade histórica que se conhece. Mary era amante de vários homens na corte francesa, apesar de historiadores acreditarem que esse aspecto seja um pouco exagerado. Quanto a Anne Boleyn, é vista como uma mulher cruel, manipuladora, com uma ávida ambição que a conduz à sua autodestruição. Quanto ao facto do incesto, desconheço qualquer referente com o real, mas achei um ponto interessante, que explora sem dúvida a personalidade de Anne, majestosamente corporizada por Natalie Portman.

Pode ser que o filme peque um pouco pela visão maniqueísta que impõe. No entanto, Eric Bana no papel do opulento rei Henrique VIII está simplesmente brilhante, principalmente porque o seu personagem mostra uma evolução psicológica que começa numa frieza sedutora, que rapidamente se transforma em ternura aquando da sua relação com Mary, e torna-se num desejo insaciável e libidinoso por Anne, levando-o à situação final de consciência e racionalidade, como de quem percebe os vários erros que cometeu e vê-se enleado na inevitabilidade de ser tarde demais para os resolver.

Uma narrativa envolvente, que seguramente me cativou, faz deste filme um "must see", não só pelo elenco maravilhoso mas também pela mensagem que transmite opondo o bem e o mal, a inocência e a ambição, a emoção e a razão, num jogo dual e que só a morte apazigua de forma redentora. A absolvição dos erros cometidos por um rei sem escrúpulos não se realiza, deixando em aberto a questão da sua sucessão: novamente duas mulheres, Mary (filha da espanhola Catarina de Aragão) e Elizabeth (filha de Anne Boleyn). Assim, tece-se o ponto de partida para um novo capítulo em termos históricos, religiosos e sociais na História mundial.

O ciclo fecha-se com o retomar do cenário inicial: uma dourada seara de trigo com crianças felizes a correr. A inserção de um narrador, que exterior à diegese, revela o que acontece aos personagens mais significativos, é um aspecto totalmente dispensável e de certa forma acessório. Não diria que desvirtua o filme, mas seria, sem dúvida, uma mais-valia se não tivesse sido incluído. Acima de tudo, o filme evidencia-se pelas interpretações, pelo argumento e pelo guarda-roupa, essencialmente.

Como contenda final, questiono-me sobre quem será “a outra rapariga Bolena”: Mary ou Anne? Na minha opinião, não será preciso responder pois ambas o foram em partes diferentes do filme, dado que o protagonismo das duas irmãs é inteiramente partilhado ao longo de toda a trama.


(13 de Abril de 2008)


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