Foi o impressionismo que me despertou para o inesgotável universo da pintura, independentemente de correntes artísticas ou protagonistas de pincel na mão. De facto, quer seja retrato, natureza morta, paisagem, temática religiosa ou nu, há quadros que nos agarram como se deles fizéssemos parte, ainda que por centenas de anos separados. Não se deve necessariamente a uma razão de identificação, pode apenas ser um deslumbramento estético, uma janela cromática de formas que nos transporta para uma realidade onírica da consciência artística. Nada inverosímil, apenas inteligível. Édouard Manet (e não Monet, esse também existe mas é um outro artista!) foi um dos precursores da pintura impressionista, cuja principal característica são as pinceladas leves e curtas que se observam como um todo quanto mais longe se estiver da tela.
Ora bem, entre o ano de 1862 e 1863, Manet pinta “Le déjeuner sur l’herbe”, um dos meus quadros preferidos de sempre. Nele vemos uma mulher nua sentada com dois homens completamente vestidos, no meio de uma floresta, a degustar um piquenique. A pose da modelo transmite uma sensualidade inerente que escandalizou o sector mais conservador da sociedade da época. O quadro esteve exposto no Salão dos Recusados, no mesmo ano, espaço para onde iam as obras dos pintores que fugiam aos cânones e que por isso não eram seleccionados para o Salon de Paris. Consideraram que este quadro de Manet estava mal pintado, quando na verdade já se adivinhavam nas pinceladas o florescer de uma nova corrente artística: o Impressionismo. Mais tarde, o Salão dos Recusados (criado por Napoleão III em resposta aos protestos dos artistas que não eram seleccionados para o Salon de Paris) mudou de nome e passou a ser o Salão dos Independentes ou Salão de Outono. Era lá que os verdadeiros vanguardistas expunham o seu trabalho, demasiado visionário para a época. Apesar de ter sido uma das obras mais menosprezadas, o seu valor real veio-lhe a ser atribuído mais tarde.
Em
“Le déjeuner sur l’herbe”, Manet inspira-se claramente na pintura do passado. Vai buscar a pose da modelo nua a
“Julgamento de Paris” de
Marcoantoni Raimondi, do século XVI. Para além disso, apenas numa pintura consegue miscigenar retrato, paisagem, pintura de género e natureza morta, diluindo qualquer hierarquia existente na arte e revelando a modernidade da corrente que viria a preconizar.
Já recuperaram desta lição compacta de História de Arte? Então vamos lá ao que me levou a dá-la. A
Dolce & Gabbana nunca me desilude, pelo contrário, consegue conquistar-me cada vez mais. Desta vez com uma simples t-shirt, que pode ser adquirida
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E quando digo simples é mesmo muito simples. Num algodão cinzento antracite temos “Le déjeuner sur l’herbe” de Manet, em manga curta. E o que me agrada mais é mesmo a consciência de que se pode trazer arte vestida. Ok pode ser um simples estampado, mas pelo menos para mim que adoro o quadro, pintura no geral, Manet no particular e Impressionismo above all, é um objecto de desejo. Quero muito, muito, muito, muito. O quadro também, se mo arranjarem, mas parece-me que está fora de qualquer horizonte. Actualmente, está em exposição no Musée D’Orsay, em Paris, e quem sabe um dia não vou para lá acampar com esta t-shirt da D&G para acordar e ver esta espantosa pintura todos os dias.